Atriz apresenta ao público mineiro “O Pior de Mim”, monólogo no qual revisita sua história numa conversa franca e direta
A história pertence a ela. Os erros, fraquezas, traumas e bloqueios são pessoais. Mas nessas vulnerabilidades que a vida nos impõe, essa trama poderia muito bem ser a de todos nós. É sob esta perspectiva reflexiva que a atriz Maitê Proença abre a temporada 2021 do Palco Instituto Unimed-BH em Casa com o espetáculo “O Pior de Mim”, com exibição nesta quinta-feira, às 20h30.
Em um relato íntimo, franco e corajoso, Maitê, 63, revisita sua história – os momentos espinhosos, suas fragilidades, seus equívocos, suas paixões e seus demônios – numa crônica cênica que, por fim, trata-se de todas as histórias. “Eu só faço referência à minha história porque é a que tenho. Ainda estou espantada pelo fascínio das pessoas por realities shows, o Instagram, as fake news… Sabemos que as pessoas nas redes sociais não são tão amigas, tão felizes, tão alegres. As pessoas não são assim, há um filtro que retém o que realmente somos. No reality show também, não é assim, as pessoas sabem que estão sendo vigiadas e criam um personagem. Mas o mundo está interessado nisso. Tudo isso me pôs para pensar nisso, que seria um bom momento para refletir. Queria mostrar o pior de mim, onde errei, onde escorreguei, por que deu errado, o que fiz de errado. E faço isso com as histórias que tenho, pois são minhas”, conta Maitê, que, ao se pôr à prova, reverbera direta e profundamente no espectador.
“Nós temos histórias diferentes, mas quando estamos vulneráveis, reagimos de forma parecida. E fui nesses lugares. É uma forma de mostrar que somos semelhantes também, no que constitui a gente mais profundamente”, diz.
Passo adiante. Norteada por uma “avalanche de mentiras que estamos vivendo”, Maitê também buscou em sua autoanálise cênica uma forma de ajudar sua classe, tão afetada com a pandemia, além de provocar no público não simplesmente uma forma de extrair o melhor das pessoas (não se trata aqui de uma montagem autoajuda), mas de refletir.
“A classe artística foi a mais afetada, e tínhamos que arranjar um jeito de fazer espetáculos e ajudar quem fica na míngua, cuja renda podemos ajudar. Topei fazer isso, e tinha um texto que não ia mostrar pra ninguém, pois era uma necessidade pessoal. Mas peguei e dei o passo adiante. As pessoas estão solitárias, sofrendo, sem esperança. Quis mostrar que estamos no mesmo lugar. Se usasse o texto, de uma forma muito verdadeira, isso tocaria as pessoas”, revela a atriz, reforçando um forte compromisso nesta incessante busca do autoconhecimento.
“As pessoas tentam esconder algumas coisas, usam desculpas, se blindando, se protegendo. E, olhando pra dentro, a gente cria mecanismos para se defender. Quando as pessoas estão juntas e compartilham histórias, se sentem pertencentes. Para que essas histórias, equívocos, erros vergonhosos, façam sentido, tenho que contar de onde vieram. Eu faço assim, porque precisei disso lá atrás. Uma pessoa que viu o espetáculo me contou que passou a vida inteira sem conseguir chamar seu pai de pai. Em seu leito de morte, falou isso mil vezes até ele partir. E, quando assistiu a ‘O Pior de Mim’, teve flashbacks desse momento. Então, de alguma forma, o texto bate na vulnerabilidade do outro. Penso que isso pode ajudar as pessoas a fazer de forma diferente. Falo de varias situações que, se eu soubesse o que sou hoje, faria diferente. Mas não sabia. Então, agora é daqui pra frente”, conclui.
Olho no olho, driblando a distância do streaming
Para quem construiu uma carreira nos palcos, lidar com o vazio do ambiente teatral é mais um desafio imposto pela pandemia. Em “O Pior de Mim”, Maitê Proença precisou encarar a contenda com a precisão que o momento exige.
“É muito estranho. No teatro, por condicionamento, temos uma tendência a projetar a voz, é uma convenção. Você fala com o último sujeito lá no balcão. E isso não dá muito certo pra câmera. Se eu falar com uma câmera para quem está em casa, fica over. Resolvi me lembrando o tempo inteiro que estou falando com aquela pessoa. Uma pessoa, com a câmera como interlocutor. E tento me relacionar o tempo todo com essa pessoa atrás da câmera”, pontua.
Ativismo de uma atriz multimídia
Intérprete no palco, na telona, na TV e na web. Escritora, cronista e até comentarista. O currículo – ou melhor, a vida – de Maitê Proença abarca muito e abraça de tudo. E, mesmo com o isolamento social imposta pela pandemia, a atriz multimídia se manteve produtiva.
“Quando você não tem uma perspectiva (para retomada das atividades), fazer projetos sem ter onde desaguar é triste. Ao mesmo tempo, não posso deixar de produzir, pois fica sem sentido”, revela Maitê, que manteve nos últimos tempos uma intensa produção em seu canal no YouTube destacando seu ativismo ambiental.
E se no início deste texto listamos uma diversidade de “Maitês”, a artista vislumbra muito mais projetos para alimentar a alma: “Falta muita coisa. Tudo isso que mencionou eu já fiz. Agora quero o novo, algo ligado à natureza. Quem sabe não me torno uma fazendeira? Tenho sonhos, quero velejar pelo mundo”.
Serviço
“O Pior de Mim”, com Maitê Proença
Direção: Rodrigo Portella
Nesta quinta-feira, às 20h30
Transmissão ao vivo e gratuita pelos canais no Youtube do Sesc em Minas (SescemMinasGerais), do Teatro Claro Rio (TeatroClaroRio) e da Pólobh (Polobhprodutora), e pelo canal 264 da Claro TV.
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