As oito caixas misteriosas que apareceram no sábado (31) em Praia do Flamengo serão analisadas por equipe técnica do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). As caixas estão com a Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) e foram retiradas da praia somente nesta segunda-feira (02). por agentes da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), que precisaram do auxílio de um caminhão Munck devido ao peso do material.
Em Praia do Flamengo e nas redes sociais, as caixas despertam a curiosidade. Todo mundo quer saber de onde vieram e o que têm dentro. O mesmo material também apareceu em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), no dia 27 de julho.
A provável origem das caixas, segundo o oceanógrafo Carlos Teixeira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), é a carga de um navio nazista afundado no dia 4 de janeiro de 1944, em plena Segunda Guerra Mundial (veja texto abaixo). Teoria que pode ficar mais perto de ser comprovada depois daa análise técnica do Igeo.
Apesar das teorias sobre a origem e o conteúdo das caixas, a CPBA, que realizou a inspeção naval dos objetos, declarou que só dá para afirmar algo após os estudos. “A Marinha do Brasil (MB), por meio da Capitania dos Portos da Bahia, informa que tomou conhecimento, no dia 01 de agosto, sobre o aparecimento de fardos, compostos de material não identificado. Foi verificado que o material não apresenta características poluentes, assim seu devido descarte será realizado pelas autoridades competentes”, escreveu por meio de nota.
Análise geoquímica
A decisão de descartar ou não o material vai depender do que for descoberto pelos pesquisadores. Diretora do Igeo, Olivia Oliveira, ressalta que o estudo vai identificar apenas a origem geoquímica das caixas e não o lugar onde elas estavam armazenadas. “A referida amostra passará por procedimentos analíticos, desenvolvidos no Centro de Excelência em Geoquímica: Petróleo, Energia e Meio Ambiente (POSPETRO) do Igeo. A origem das caixas, onde as mesmas estavam armazenadas, não pode ser apresentada pelo procedimento analítico acima mencionado”, explicou.
Ela diz ainda que, mesmo identificando que as caixas são formadas, não vamos nos aproximar da confirmação de que o material veio mesmo de um navio nazista. “Não, nossas análises não dizem se vem de navio nazista. Não temos padrão de amostras de látex vindo de navios desse tipo”, disse.
O estudo
Olívia falou ainda como serão os primeiros passos da análise das caixas e o que pode ser feito a partir dos resultados observados. “Visualmente, a amostra não aparenta se tratar de petróleo. No entanto, o protocolo analítico inicial requer lavagem de uma pequena área amostral, com solvente, para identificar possível vestígio de óleo. Sendo positivo para petróleo, a equipe de pesquisadores forense dará continuidade às análises a fim de possível identificação da sua origem geoquímica”, informou.
Caso o material seja óleo, o prazo para ter essa resposta não é nada longo, ao contrário do que se pode pensar. Uma vez iniciada a análise, o estudo deve ser concluído em apenas dois dias, identificando a origem geoquímica. Se não for óleo, o Igeo deve encaminhar as amostras para pesquisadores de Física Nuclear da UFBA realizarem uma análise, que não teria uma estimativa de tempo para ser concluída.
Carga de navio nazista
Em um artigo, o professor Carlos Teixeira explica como o material que chegou por aqui é parte do que havia em um navio nazista. Segundo ele, manter o Exército Nazista, uma das maiores máquinas de guerra da história, não era tarefa fácil e demandava muitos recursos. A borracha, usada nos pneus e armas, não era produzida no território alemão e precisava ser importada de lugares como a Indochina, colônia francesa foi desfeita em 1954, dando lugar a países como Laos, Camboja e Vietnã.
Só que percorrer os 10 mil quilômetros que separavam esses países não era tarefa fácil. Para isso, os alemães utilizavam navios chamados “Blockade Runners”, que eram ágeis e conseguiam furar os bloqueios marítimos feitos pelos Aliados. Também costumavam usar rotas alternativas, contornando a América do Sul e chegando à Europa pelo Oceano Atlântico.
Mas nem sempre a estratégia dava certo e, naquele 4 de janeiro de 1944, o SS Rio Grande – o navio alemão usava um nome em português para confundir os inimigos – foi interceptado pelo contratorpedeiro USS Jouett e pelo cruzador USS Omaha no mar entre Natal e a Ilha de Ascensão, no nordeste do Brasil, ponto estratégico para os Aliados – rivais dos nazistas.
Os alemães tentaram fugir, mas foram abatidos pela Marinha Americana. Uma pessoa morreu, 71 ficaram feridas e o navio, junto com sua carga, foi parar a 5,7 mil metros de profundidade – e lá ficou até agosto de 2018.
*Com a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro
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